sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um Pouco da História de meus Avós Paternos: Manoel Augusto Balthazar e Isabel Pereira Balthazar




Médico e Doutor em Reumatologia
Dr. Plínio Augusto Balthazar

QUERIDOS FAMILIARES


Por volta de 1970 entrevistei nossa querida mãe com esferográfica na mão e um caderno para as anotações que tem na capa escrito em letras de fôrma: VICENTE ROMANO – CIRCUITOS -. Hoje, 14 de junho de 1985, dois dias após seu passamento ocorrido na data em que completava 86 anos – 12 de junho, ainda sob emoção e tristeza transcrevo este relato, Faça-o por vários motivos destacando-se a preservação da memória de duas criaturas ( mesmo abstraindo-se a condição de filho ) extraordinárias, de alta postura humana e espiritual. Os filhos mais velhos   Lola,  Veva,  Dulce e Zeca viveram os momentos mais cruciais ( Nelson creio que também ); já eu ( Plínio ) e Raquel diziam que já nasceram em berço de ouro ! Acredito que os netos e bisnetos compreenderão e apreciarão o que vão ler agora.
         Munido de grande interesse humano, pois ouvia dos mais velhos relatos esparsos sobre a vida dos nossos pais – Manoel Augusto Balthazar e Isabel Pereira Balthazar – passei um dia, como disse, por volta de 1970 ( não anotei a data exata ) com muita paciência ouvindo D. Isabel. A meu pedido foi devagarzinho, com aquele seu jeitinho muito suave relatando:



          D. Isabel Pereira Balthazar e Manoel Augusto Balthazar
           (n.c. a data desta foto) possível: 1956.



                   “ Nasceu em 12 de junho de 1899, na miséria, Não conheceu o pai. A viúva vovó fazia crochê com luz de lamparina para criar os 4 filhos. Assim cresceram. Aos 7 anos ela se recorda: as bananas colhidas no quintal eram vendidas em Jundiaí e muitas vezes receberam alimentos como caridade. Quando moça trabalhou em fábrica de tecidos entregando seu salário em casa.
                   Casou-se sua irmã Dita e com ela veio morar em S.Paulo. Nesta cidade foi operária da litografia Alemã. Na infância por falta de recursos estudou até o 2º ano do primário, aprendendo a ler, mas não a escrever.
                   Papai era cabo da Força Pública do Estado quando se casaram. Moraram nessa ocasião numa espécie de porão sito à r. Rodrigo de Barros. Nasce Lola em vida de penúria. Papai filho de imigrantes portugueses da zona rural – Traz-os-Montes – viveu também em plena miséria. Desde cedo destacou-se de seus irmãos pela vontade que tinha de aprender. Por todo canto onde andava pegava folhas de jornais e revistas para tentar ler. Aos 8 anos de idade fugiu de casa para poder estudar pois o espancavam para que trabalhasse em casa. Nessa idade tornou-se caixeiro de empório e dormia em cima de malas no correio.
                   Aos 16 anos Manoel ingressou como soldado na Força Pública, e, como cabo da milícia casou-se. Lembra-se que na infância, mandava seu ordenado integral para sua mãe que regressara a Portugal. Antes de iniciar a vida militar passou por período difícil acometido de maleita quando foi internado na Sta. Casa de S.P. em estado grave. Por ocasião da alta comeu uma dúzia de bananas sendo quase reinternado por indigestão.
                   Continua mamãe: seu pai teve a sorte nessa época de conhecer o filho de D. Vitalina, mãe de Dora e ficou como filho da casa, pois era muito bom. Lá engordou e melhorou de saúde. Foi quando mamãe, ao visitar Dora, o viu pela primeira vez com um livro na mão, pois estava sempre estudando. Mamãe o achava, digo, o achou um pouco orgulhoso. “Puxa, como é carrancudo?” Ao que D. Dora retrucou: “Ele é assim mesmo, mas é muito bom”.
                   Em Salto Grande pai aprendeu ofício de barbeiro e tentou um salão em S.Paulo, mas depois ingressou na Força Pública. Logo após o diálogo acima mamãe viu um soldado passar de bicicleta por sua janela e “flertou” ( tirar linha ) com o mesmo. Na rua Rodrigo de Barros, sua irmã Dita sobre aluga seu sobrado ( alugado por D. Barbina ) sendo o porão para 4 soldados. Papai sendo colega dos soldados lá ia às vezes e fazia refeições. Assim estabeleceu contatos com mamãe. Papai receava falar com o cunhado de mamãe, pessoa muito enérgica. D. Barbina e d. Dita ajudaram o namoro sendo feito o cartaz do papai como sendo muito bom moço. Após investigação, “meu cunhado sabendo que nos gostávamos autorizou que Manoel viesse com ele falar”. Em seis meses namoraram e casaram-se.
                   Mamãe era vaidosa e queria mundos e fundos ( Igreja, vestido de noiva etc ) mas ante a realidade foi se conformando. Manoel, 22 anos – Isabel, 19 anos. Com muita luta conseguiu-se um vestido e casaram-se apenas no civil. De trem viajaram para Jundiaí. Oito dias após o casamento papai sonhou que um colega lhe colocara mais uma divisa no braço ( 3º sargento ). Na volta em S.Paulo, confirma-se imediatamente o sonho trazendo muita alegria.
                   D. Dita pede quarto a d. Barbina, sala e no porão cozinha. Mamãe tinha tristeza de ser pobre, mas estava contente. Sempre teve muito ciúmes do papai e receava que ele virasse a cabeça. Lola, como já foi dito, nasceu sob o signo da pobreza. Não houve enxoval, porém, Dita que era 2ª mãe e o cunhado, Cunha, 2º pai, ajudavam como podiam. Parto: a tia da vizinha era parteira formada e o parto foi em casa e normal. A amamentação foi materna. Lembra-se de infecção grave que acometeu a Lola. Piorava apesar de diferentes remédios. Um Senhor espírita da r. João Teodoro receitou homeopatia, 1 c. de chá e banhos mornos. Há dias que a febre era alta e ninguém comia ou dormia. Na 3ª colher a febre passou e a Lola dormiu. Até se assustaram, pois a menina ficou fria, mas tudo ficou bem.
                   As finanças pioram ( imaginem ! ) e mudam-se para o porão ao lado da cozinha. Vem a gestação da Veva. Papai sempre estudando em casa. Deseja muito entrar em curso especial que lhe dará direito a ser aspirante-oficial. Naquela época o correspondente a ginásio e colégio podia ser realizado na corporação militar. Mamãe tomou a iniciativa de procurar algumas patentes militares empenhando-se pelo papai achando que foi importante em sua aceitação para o curso especial. Estudos rigorosos, exames, doenças, gestação da Veva, luta grande.
                   Mamãe vai falar agora de uma casa em Tremembé, bairro de S.Paulo. Por isso recorda-se de fatos tristes, constrangedores.  O bisavô materno da mamãe Juca Pereira ( dos Pereira de Andrade ) era milionário em Jundiaí e deixou herança para os filhos: vovó ( mãe da mamãe ), padrinho Juca  e Castilho  ( este advogado ). Vovó nada recebeu, e padrinho Juca alguma coisa. Lembram quando Juca Pereira estava para morrer que deram papéis para ele assinar. Como vovó tomava conta do padrinho Juca, Castilho construiu casa para ambos em Tremembé.
                   ( Lembro-me na infância quando meus irmãos me mostraram a casa do dr. Castilho ( tio-avô da mamãe ) na av. Angélica. Era uma mansão que ocupava quase um quarteirão onde se não me falha a memória existe hoje o “Gilberto Nascimento” e adjacências. Contam também que o padrinho Juca ao cruzar com seu irmão Castilho em plena r. Direita em hora de movimento levantava a sua bengala e gritava: “ladrão, ladrão”, ao que Castilho lhe acalmando enfiava-lhe algumas notas de dinheiro em seu bolso. Este relato pode gerar revolta em alguns corações. Entretanto seguindo os ensinamentos de Cristo não podemos julgar. Todos somos responsáveis por nossos atos perante as leis do Senhor. E quem de nós não foi injusto de um grau ou de outro ? ).
                   Cunha ( cunhado da mamãe ) trouxe vovó e Laura ( irmã da mamãe ) para Tremembé. Castilho comprou ou construiu essa casa por muita insistência de Cunha. Como o quintal fosse grande Cunha construiu no mesmo, pois, em má situação, saira do sobrado. Com muita dificuldade construiu e mudou-se.
                   Por dois meses nossos pais ficam no sobrado ( nos altos com boa melhora temporária ). Entregam o sobrado e vão para próximo de vovó, alugando uma cazinha na Parada Sete. Nasce a Veva por mãos de parteira prática d. Maria, em meio a dificuldades. Voltam então para a casa de vovó. Lá o clima era difícil. Laura e Leonor ( irmãs da mamãe ) não se entendiam brigando muito. Papai que fazia o curso já mencionado para poder estudar isolava-se à luz de lamparina numa privada, dessas que tem fosso no chão. Não demorou e chegou a luz a Tremembé. Papai levantava-se às 4 hs da madrugada para pegar o 1º trem. Terminava de amarrar o sapato e abotoar a túnica no trenzinho. Com isto papai preferiu um quarto próximo ao quartel.
                   O sacrifício, entretanto, foi maior. As despesas aumentaram e houve períodos muito difíceis. Ela relata agora um episódio que já ouvira uma vez. Aos 4 anos Lola chorava de fome, Queria pão. Um português, dono da venda, negou fiado ( compra para pagar depois ). Papai ficou triste e revoltado. Juntou alguns vidros usados e vendeu na farmácia e comprou pão para a criançada.
                   Mamãe chorava às ocultas. ( lembro-me agora que ela não gostava de levar problemas para ninguém; muitas vezes quando eu chegava da escola percebia no seu semblante uma preocupação e à minha pergunta: que aconteceu ? Respondia: nada. Eu insistia e ela então contava um problema qualquer, uma incompreensão, uma discussão entre os filhos etc. e eu a fazia desanuviar e rir ).

                   Volto a dizer Mamãe chorava às ocultas. Veva tinha alguns meses. Um dia papai estava na luta dos exames. Seria o último exame ( Física ) que lhe permitiria sua entrada ou não no curso. Mamãe cozinhava nos fundos onde havia fogões coletivos. Não podia deixar a Veva no quarto, pois um dia ela caíra em baixo da cama. Com a corrente de ar do quintal Veva contrai pneumonia. Os remédios do farmacêutico não davam certo. Novamente diz ela: eu e seu pai como cadáveres chorando, sem dormir ou comer. Revezavam-se andando com a menina no colo. Papai precisava estudar. Mamãe teve a intuição de dar acônito de homeopatia orando. Deu dose maior e de ½ em ½ hora. Papai foi para o exame. Veva começou a suar e mamãe a cobriu com dois casacos. Houve um momento em que os padrinhos de Veva, Chichilo e Maria e papai acendendo uma vela pensaram simultaneamente que se o palito caísse aceso a Veva ficaria boa. A Veva começou a expectorar e caiu a febre. Papai que saira triste voltou alegre encontrando a filha melhor. Houve muita alegria, pois papai fora declarado Aspirante-Oficial. Estamos em 1922.

                   Mas novamente pioraram as finanças e mudam-se para a Parada Inglesa. Gestação da Dulce em meio a miséria. Mamãe lavava muita roupa e então por vezes pensava: será que vou agüentar ? E então sentia que o Senhor lhe enviava forças para continuar a luta. Morre o padrinho Juca e voltam para a casa de Vovó em Tremembé. Lá ficam em dois quartos grandes e uma cozinha. Dulce nasce em parto normal com parteira em casa. ( Eu e a Raquel nascemos na Maternidade S.Paulo – Aleluia - ). São 4 hs da tarde no que está sendo relatado. Mamãe diz que omitirá detalhes mais tristes. Papai tem uma cefaléia aguda, forte. Bate a cabeça nas paredes de tanta dor. Fica quase cego e é internado de urgência em estado grave no hospital militar. Entor... a boca e o nariz ( paralisia facial ) e passou a receber injeções de bismuto.
                   Aos poucos ele foi melhorando. Em casa por muito tempo ainda apresentava a boca virada. Foi recomendada mudança de ambiente.
O tenente Balthazar foi transferido para comandar destacamento em Piracicaba onde sua saúde voltou ao normal.
                   Em Piracicaba ficaram em hotel, pois de início não conseguiram casa. Houve um pouco mais de conforto. Que bom ! Não se trabalhava. Férias, cinema etc. Mas, esta tranqüilidade durou pouco. Conseguiram uma casa antiguíssima. Lava-se roupa nos fundos, cujo o tanque era alto, desconfortável. Papai dava ronda com o delegado na cidade e voltava 1 ou 2 hs. da manhã. Mamãe ouvia barulhos na casa. Cadeiras que se arrastam, panelas que caem etc. Tranca-se com as crianças no quarto. As crianças dormem profundamente por mais que mamãe tentasse acordá-las. Quando papai chegava os barulhos desapareciam e ele ria diante da estória dizendo tratar-se de ratos. No fim do 4º dia mamãe não agüentava mais. Foi quando uma velha da casa vizinha, disse ao lado da cerca disse estar admirada de estarem lá tantos dias, pois o dono que morrera na casa não queria ninguém lá. D. Isabel ficou com muito medo. O Sr. Tiago bagageiro ( soldado destacado para auxiliar os oficiais ) ficou em casa para colaborar na limpeza.
                   Em pouco tempo mudam-se para uma casa em frente ao quartel onde houve período de paz. Tem direito a poltronas no cinema. Laura está morando com mamãe com Zeca em gestação. Vem a revolução de 1924. Novos e grandes sofrimentos. Papai foi chamado e dele perdem notícias. Mas não houve fome, pois o crédito continuou. Cunha foi para a revolução. As comunicações estão cortadas. Cunha foi buscá-la. Ela se recorda então que o esposo da professora que se dizia muito amigo do papai exigia que a conta do padeiro fosse paga, pois ele era o fiador. Vexada, não sabia como fazer.
                   No trem a caminho de Tremembé em S.Paulo. A viagem em meio a tristeza e na condição de gestante foi difícil. Vomitou o tempo todo. Em S.Paulo havia muitos refugiados. Conheceu muitas pessoas. Conta-me então que não podia ver ninguém sofrer. Lembra nessa ocasião uma passagem que selou amizade grande e duradoura entre a nossa e a outra família. Sua irmã Dita viu um automóvel sem rumo, perdido. Tratava-se do casal Sr. Alfredo e d. Rosinha, crianças ( filhos ) e mais uma moça. Dita convidou-os para que se abrigassem em casa. Panelas de sopas e doces para alimentar todo o pessoal. Por coincidência quando papai volta para casa a noite verifica que o Sr. Alfredo era a pessoa com quem discutira tentando impedir sua passagem mas cedendo depois.
                   Tiroteio dia e noite ( em todo este relato estou seguindo de forma natural a narração da mamãe, apenas acertando um pouco a redação ). Papai vinha para casa apenas para trocar de roupa e voltava. Em certo dia Cunha pressentiu que uma granada cairia no mesmo local que estava o papai o que realmente aconteceu escapando por um triz. Papai queria acompanhar os revoltosos de 24 com o General Isidoro Dias Lopes. Cunha o dissuadiu. Durou 20 dias. Papai, 2º tenente estava preocupado com ordem de prisão.
                   Alugam então um quarto próximo ao quartel na Ponte Grande. Não havia local para banho. Banhavam-se em bacia. Miséria. Papai está fora dos quadros da Força. Os legalistas, por cima, continuavam indo ao quartel, pois aguardavam boletim oficial. Dois meses depois veio ordem de prisão.
                   Os presos foram reunidos na chamada Emigração, rua próxima ao parque D.Pedro II. Ficou 8 ou 9 meses lá, onde conheceu generais, políticos. Entre os quais cita o Brig. Eduardo Gomes. Era o barbeiro do pessoal e sempre bem quisto por todos. Sabiam que papai era o que mais necessitava e pagavam-lhe pelos cortes sempre mais do que o razoável. Juntavam num envelope que era entregue à mamãe. As esposas viam os maridos da rua para a janela. Veva gritava que queria ver o papai e somente ela conseguia vê-lo nos primeiros meses.
                   Zeca nasce em Tremembé na casa da Vovó em 08 de janeiro de 1925. Papai foi conhecê-lo na prisão oito dias depois. Fez uma festa e chorou quando conheceu o filho. Todos os dias mamãe tomava o trem e ia visitar o papai. Esclareço aos mais novos que embora Tremembé fosse um bairro de S.Paulo, era como um subúrbio sendo servido pelo trenzinho ( Maria Fumaça ) da Cantareira. Papai escrevia a mamãe que procurasse determinado juiz para ajudarem a causa deles. ( Brig. Tobias ). Aqui só estudando a história da época para compreendermos as posições. Corria notícia, continua d. Isabel, de que os presos iriam para a ilha dos Porcos. O citado juiz, entretanto, afirmou que isto não ocorreria tranquilizando mamãe. Nessa altura a Veva ( 3 anos e pouco de idade ) intervem: “ o guarda-chuva é emprestado de d. Zenaide, viu Sr. Juiz”.
                   Havia na Av, Tiradentes o convento da Luz. Existirá hoje ? Pergunto. Diz mamãe: papai defendeu muito o convento durante a revolução. Ficaram apenas duas irmãs e d. Zenaide. Chegou mesmo a se refugiar no convento. As freiras ajudavam mamãe com mantimentos e algum dinheiro. Com dificuldade mamãe se deslocava com os filhos para lá muitas vezes. O Zeca era colocado numa roda e passava para o lado de dentro onde as irmãs lhe faziam grande festa. Agora não consigo entender bem, mas está escrito assim: entrega do dinheiro da revolução facilitou. Nogueira era amigo do papai, embora legalista. Nogueira e Jacinta batizaram Dulce.
                   Finalmente saíram da prisão com a condição de ficarem fora da Força Pública e fora de S.Paulo. Ficaram a zero. Papai então começou a estudar contabilidade por livros tornando-se Guarda-Livros, expressão antiga.
                   Fazemos agora um parêntesis para um período não menos amargo. Mamãe retorna a época da gestação da Lola quando foi conhecer a família do papai. A viagem constou de um dia e uma noite de trem, condução para chegar a fazenda Bela Vista e depois um dia inteiro a cavalo. Conheceu o sogro, sogra e cunhados que eram colonos da fazenda. Nessa mesma época papai como sargento foi transferido ( um comandante antiparizara-se com ele ) para Itaporanga, fim do mundo. Houve apelos e acabou sendo transferido para Capão Bonito do Paranapanema onde Lola foi batizada. Depois de certo tempo voltou a S.Paulo.
                   Voltamos ao estudo de contabilidade e destino após a saída da prisão. Foram para Coroados no noroeste do estado onde morava tia Aurora irmã mais velha do papai. Lá montou um salão de barbeiro. Tio Nay , de boas posses não nos ajudou. Moraram em casa de pau-a-pique. Viveram 6 anos como judeus errantes. Arroz e feijão. Lola com 6 ou 7 anos levava comida para o pai na barbearia. Um dia a menina caiu no barranco e resvalou o pé causando susto e preocupação. Nessa ocasião ficou muito doente ( urinou sangue ) trata-se do papai; precisavam voltar para S.Paulo mas não havia condições. Os parentes não ajudavam. Um senhor espírita entregou um dinheiro em envelope para o papai informando que era doação para a viagem. Compraram algumas roupas e viajaram para S.Paulo ficando em Tremembé uma temporada.
                   Papai sempre estudando contabilidade recebe numa noite a visita do Sr. Amaral de grandes posses e que precisava um contador para a sua fazenda. Seu filho Sílvio  foi o padrinho do Nelson. Possuía 4 fazendas e queria escrituração das 4 com urgência. Oito dias depois mudam-se para Quilombo onde vão morar numa casa de colonos próximo à estação. Ocorre que não havia água na casa. Havia um rio próximo onde várias crianças tinham perecido.
                   Mamãe sofreu muito lá, envelheceu precocemente. Para lavar roupa havia uma lagoa há cerca de 200 ms. da casa. Para lavar era necessário ficar com água até o umbigo, pois o barranco era escorregadio. Lá permaneceram alguns meses. Os patrões eram sovinas. Ainda trouxeram um porco para mamãe criar. ( Desculpem, penso eu agora: seria para o natal dos Amaral ? ). Papai, alem das escritas era o responsável pelo armazém do Amaral. Com os compradores papai sofreu muito. Não tinha hora para comer. Ambos estavam esgotados. Lola sem escola.

                   Mas, antes de Quilombo, quando chegaram de Coroados, foram morar com Cunha. Irmã Dita havia falecido. Voltamos atrás para este episódio. Logo após o nascimento do Zeca em 25 após a revolução Dita apresentou cólicas intensas foi levada para Sta. Casa. De primeiro conta que Cunha bebia muito e ficava insuportável quando nessa situação. Dr. Pedro Ayres Neto a operou, mas houve complicação, fístula estercoral ( as fezes saem pela pele através da fístula ). Teve alta para morrer em casa. Papai preso. Dita sofreu muito. Chamou um por um da família. Era o braço direito de todos. Foi uma romaria quando ela faleceu. Pegando na mão da mamãe pediu perdão por um tapa que dera no rosto. Mamãe a tranquilizou dizendo que não havia nada. Tia Dora não atendeu a irmã. Dita sabia a hora que ia morrer.

                   Foi então que papai saíra da prisão dirigindo-se com a família para Coroados. Na volta de Coroados para Tremembé, antes da ida para Quilombo, nasceu o Nelson ( 10 de setembro de 1927 ). O Parto foi difícil tendo custado a nascer, pois era grande. Parteira curiosa do local. Nelson cresceu bem, forte, sem dar trabalho. Foram para a r. Prates com o Cunha ( pobre ) onde passaram mais dificuldades para não repetir a palavra miséria. Papai procurou ser vendedor de tecidos. Batiam-lhe a porta no rosto. A alimentação constava de feijão, arroz e couve. Em determinado dia não havia açúcar, café, carvão. Mamãe foi ao convento onde anos antes fora ajudada. Prontamente obteve alimentos ( um pouco de tudo e dinheiro para carvão ). Vovó estava junto e ajudava a alimentar as crianças. Todos os dias papai dava uns minguados para a comprinha do dia. Foi quando voltando atrás surge Amaral e a ida para Quilombo.

                   Em Quilombo numa noite às 10 hs. A venda já estava fechada. Mamãe costurava e papai lia jornal. Subitamente papai teve um ataque: gritou e em seguida desmaiou. Os vizinhos correram ouvindo os gritos. Palpites. Lavagem intestinal. Voltou a si. Seria macumba ? Papai era enérgico e tinha inimigos. Nesta altura mamãe conta um fato a ela relatado: papai aos 15 anos irritou-se muito com amigos que ao andarem iam chutando latas. A certo instante não agüentando aqueles ruídos caiu desmaiado. Após o primeiro ataque teve outro ( em Quilombo ) e pela manhã outro. Mamãe telefona para a fazenda. O médico era enfermeiro e receitou remédios. No dia imediato papai apresentava pontadas do lado. Verificou-se depois que se tratava de Pleurisia e pelo que contam creio que epidema ( pus ) pois expectorava catarro e sangue com mau cheiro. Sr. Amaral foi chamado. Então papai veio para a Sta. Casa de S.P.. Silvio acompanhou papai e mamãe ficou em Quilombo com as crianças. Após três dias sem notícias, mamãe que era sem dúvida muito corajosa decidiu vir para S.P. Arrumou tudo em sacos e malas e tomou trem com as crianças ( cinco ). Deus ajuda. Em Jundiaí, na baldeação, um senhor desconhecido a ajudou. Em S.P. toma um taxi e vai até d. Rozinha na r. Mauá onde puderam se alimentar. A família de d. Rosinha estava bem.
                   De d. Rozinha rumou para Tremembé onde foi recebida com alegria. Mamãe ficou contente e triste ao mesmo tempo. Na mesma hora foi com Nelson e Lola à Sta. Casa. Papai passava mal. Entregou a mamãe valise com economias obtidas em Quilombo. Mamãe levava laranjas e melão para ele. Em Tremembé Laura namorava Daniel pessoa terrível que colocou a casa em polvorosa. Surrou o Zeca entre outras. Mamãe com receio de continuar lá acabou combinando a ida para a casa do Antonico ( irmão da vovó ) sobrinho do Castilho. Parece que no começo do relato Castilho fora colocado como tio da mamãe quando na verdade parece que era tio-avô. Antonico tinha muitos filhos em Vila Mariana. Mais os de mamãe e havia muitas brigas. Havia um pequeno quarto no quintal ( galinheiro outrora ) onde mamãe e as crianças ficaram. Estendeu-se um colchão no chão. No colchão havia piolhos de galinha e um dia um rato foi encontrado no mesmo. Iam a Sta. Casa todos os dias visitar o papai. Este um dia pediu alta ( não havia ordem médica neste sentido ) e foi para casa. Magro e tossindo. Quando viu o quadro acima descrito disse chorando: Eu não morri ainda. Em seguida recompondo-se: não há de ser nada. Deus me dará forças e eu vencerei. Mamãe fazia polenta e dava bananas aos filhos. Papai começou a se defender. Com o sobrinho de d. Dora trabalhava doente. Tinha melhorado o mal cheiro. Com o sobrinho de d. Dora abrem como sócios um salão de barbeiro. Daniel casou-se com Laura e somem.
                   Voltam a Tremembé. Melhora um pouco a vida alugando pequena casa em Santana. D. Cristina mãe da mãe ( vovó ). Mas papai continuava doente. Um dia pela manhã expectora sangue. Mamãe chora. Papai ri e abre torneira lavando as costas com água fria para espanto da mamãe 3 ou 4 vezes.
                   Há agora uma certa confusão na cronologia dos fatos. Lembrava-se agora que antes de ir para a fazenda, Amaral quis treinar ou experimentar papai no escritório. Foi quando ficaram em Santana. Daqui para Tremembé e depois a Quilombo.
                   Vem agora o susto do Nelson, ou que o mesmo provocou. Todos os dias pela manhã Nelson chorava quando papai saia. Um dia papai saiu sem o chapéu. Não tardou e o Nelson sai aos dois anos de idade com o chapéu na mão atrás do pai. Mamãe aflita foi procurá-lo e as pessoas na rua iam indicando que o menino com o chapéu virara tal esquina e assim por diante quando mamãe o alcança na r. Voluntários da Pátria conhecida pelo intenso movimento.
                   De Tremembé foram para a r. Mendes Junior ( não se recorda se antes ou depois de Quilombo ). Da Mendes Jr. Foram para a Parada Inglesa. Papai praticamente curado deixara a barbearia e trabalhava numa indústria ou comércio de venda de cereais onde era contador. Ficou gestante da Terezinha. 1929 ou 30 ? . Já não passavam fome, mas muita privação. Papai dava aulas de aritmética e geografia até tarde e mantinha esperanças de voltar a Força Pública. Teve parto normal com parteira Edwiges. Pela 1ª vez papai assiste o parto e não se sente bem. No 4º dia mamãe levanta-se para trabalhar. Tirava água do poço. Numa cerca do vizinho havia um cão policial. Nelson aproximou-se e mamãe teve a impressão que o cão pegou a mão do menino. Teve um choque, dor na espinha. Tudo embaralhava, não reconhecia as pessoas, não comia. Um mês de sofrimento intenso.
                   Papai levou mamãe para um sanatório de doenças mentais, pois a mesma estava sem memória. Tudo contado pela mamãe que soube depois do que ocorrera. Vovó cuidava das crianças. Mamãe via pessoas deitadas que depois desapareciam. Aos poucos foi melhorando e teve alta. A única filha (entre filhos e filhas) que mamãe não teve condições de amamentar faleceu após disenteria, aos 7 meses quando já ria e conhecia o papai. Terezinha faleceu na Sta. Casa. Mamãe não estava 100%. Não tinha forças.
                   Aguarda-se a volta de Getúlio em 1930 e ocorre a reversão dos revoltosos de 24 a Força Pública. Papai é capitão da Força.
                   Começa um novo ciclo de vida. No ganho de causa recebem todos os atrasados desde 1924. Imediatamente procuram uma casa para comprar. Depois de busca em vários bairros com corretor ( mamãe não podia ver cemitérios ou ouvir falar de morte ou pessoas mortas ) no final do dia vão ver a última sito a r. Fernando de Albuquerque entre a Augusta e Consolação. Esta conheci bem, pois lá vivi do nascimento aos 16 anos, muito feliz, por sinal com pais e irmãos unidos e amorosos. Mamãe gostou da casa no ato. Pediu a chave ao vizinho e ficaram encantados. A criançada ficou louca de alegria.


                   Aqui paramos porque já estamos um pouco cansados. Havia a intenção de continuarmos de 30 para cá. Não se concretizou. Entretanto os irmãos e cunhados tem na memória esse período. Nunca mais houve fome. Eu não conheci miséria. Houve sempre dificuldades. Não se tinha tudo o que se queria. Mas havia o essencial para uma vida digna. Fico pensando no milagre desse casal criando todos os filhos em meio a tanta dificuldade.
                 

                   Pessoal, alguém poderá pensar: para que rememorar o passado, principalmente fatos tristes. Há alguma razão para se pensar assim. Sou dos que acham que o passado já foi e deve-se viver o presente e olhar para o futuro.
                  Aqui, entretanto, nosso objetivo é oferecer o conhecimento de uma realidade viva a pessoas envolvidas pelo afeto e pelo sangue. Não vamos nos prender em lamentações inúteis. Apenas colher das experiências dos mais velhos, lições para a nossa vida. Queremos e lutamos para que todos sejam felizes, mas se a adversidade em qualquer circunstância surgir vamos nos lembrar que outros já pisaram os mesmo espinhos ou piores e venceram.
                   Não vamos sequer pensar e dizer: coitada da mamãe e do papai: como sofreram. Não: felizes papai e mamãe: como Viveram !

                   Mais recentemente guardo da mamãe os salmos que ela dizia décor: entre outros: 20, 23,24, 27 e 61. Eu ia visitá-la para levar conforto e ela que me confortava. Vamos ler em homenagem a ela um desses salmos para começar o dia.

                   Paz, Saúde e Alegria a todos. Que nosso Senhor vos abençoe.

                                                    Plínio Augusto Balthazar
                                                            14.06.85









2010.19.09

Nesta foto: dois dos netos de Manoel e Isabel, Carlos a esquerda do pai e Fábio a direita do pai, este, responsável pela digitalização dos dados históricos narrados pela avó Isabel, a mais de 25 anos atrás, e registrados na máquina de escrever do pai, após dois dias do aniversário de 86 anos de idade e concomitante ao seu falecimento de Isabel Pereira Balthazar, aos 12 de junho de 1985.




    Meus avós paternos: Isabel Pereira Balthazar e Manoel Augusto Balthazar





O gato People e Plínio Augusto Balthazar











Plínio, Fábio, Paulo,Carlos, Áurea e Luiz



Eliana










Fábio, Carlos e Eliana





Fábio
Luiz


Paulo


(abril de 2012) Juju, Fábio, Paulo, Tereza, Eli, Carlos e Luidi






(Maio de 1983) Dr. Plínio, Luíz, Áurea, Eli, Paulo, Eu e Carlos







Juliana e Balthazar























 Juju e o Balthazar









Be, Eli. Balthazar, Carlos e Áurea




UM POUCO DA HISTÓRIA DESTE MÉDICO

















Dr. Plínio A. Balthazar.


O que falar deste senhor?

Por Fábio André Balthazar

Primeiro que ele nasceu no mesmo ano e dia do grande músico e pianista Gilberto Tinetti, 1932.06.04, digo isto porque por coincidência ou não ele toca piano de ouvido muito bem, e o ano de 1932 completava uma década depois da semana de arte de moderna (1922) e dos revoltosos de 18 do forte de Copacabana no Rio de Janeiro (1922), dois eventos de grande lembrança em nossa história e que com certeza deve ter influenciado o contexto da história individual deles.

Sei pouco de suas histórias de ginásio. mas contou 
uma vêz, ele, cheio de alegria, de sua primeira namorada, mas contou, também, o quanto desgostoso ficou quando decidiram mudá-lo para uma tal escola americana, e que depois que se formou no científico, já iniciou sua carreira para ser médico, sem saber ao certo se era esta a vocação. não se perguntava muito nesta época, obedecia-se.

Formou-se médico pela escola paulista de medicina, fez residência e depois começou a trilhar pela especialização em patologias reumáticas. até hoje, lembro-me de sua obra de mestrado ou doutorado, o qual seu orientador foi dr. Wilson Cosermelli - nome de grande destaque nos estudos de patologias reumáticas - grande pesquisador, um dos principais nomes dos imortais da escola paulista de reumatologia. mas ele, Dr Balthazar, não ficou atrás de seu orientador e conquistou o número 40 (quarenta) da Escola Paulista de Reumatologia.

Lembro-me do nome da patologia: “lupus Eritematoso Sistêmico”, uma doença do tecido conjuntivo de múltiplas causas e de difícil diagnóstico naquela época, talvez hoje nem tanto.
Dr. Balthazar nasceu na Rua Fernando de Albuquerque, proximo a rua Hadoque Lobo. casou-se com 28 anos com Áurea Val Silva André, 17 anos, quando esta completou 23 anos, já haviam nascido os cinco filhos e quem conta esta história é o terceiro.

Aurea deseja estudar. entre 1967/68 aconteceu. contra o desejo dos pais dela, meus avós, Esar e Lívia, e ele também não compreendia.

Meus dois irmãos: Paulo, (9) e Luiz (7) ficaram em São Paulo, eu (6s) Carlos (5s) e Eliana (3s) fomos para o sítio de Mairiporã-sp, 1968, onde residia meus avós, pais de áurea, esar e lívia.

Somente me lembro de voltar a ver meu pai quando da reconciliação do casal, em 1972 até 1977, e a família estava toda unida novamente, morando agora em Mairiporã-sp. mas todos os dias, ele e ela, iam para São Paulo e voltavam a noite, enfrentavam a rodovia Fernão Dias. naquele tempo já era uma rodovia muito movimentada.

A data de 19 de abril de 1976, a morte da minha querida avó Lívia em uma enchente na Av. Pacaembú enviou um recado de desestabilização na família, e em 1977 Áurea e Plínio separam-se definitivamente. e nós, filhos, junto com o pai, voltamos todos a morar em são paulo-sp.
Dr. Balthazar seguiu sua carreira.

Uma das melhores lembranças era quando ele nos levava, hora um filho hora outro, nos plantões médicos do aeroporto de Viracopos- Campinas-sp, depois no aeroporto de Congonhas.

Lembro-me que cheguei a passar uma virada de sábado para domingo quando passou a fazer também plantão no aeroporto de internacional de Guarulhos,  já no final de sua carreira de plantões médicos em aeroportos.

Quase que toda sua carreira de médico fez-se no Hospital das Clínicas de São Paulo e ministrando aula na Escola Paulista de Medicina ou atual Universidade Federal de São Paulo de Medicina.

Na páscoa do ano passado em seu aniversário de 80 anos, que coincidiram na mesma data, em 2012, vi sua lucidez e seu entusiasmo, vi não simplesmente um pai, mas o amigo de sempre que o tempo não ha de apagar de minha memória, mesmo em face do vento, que desgarram as folhas e as lançam no esquecimento não esquecerei deste ser-humano que se não estivesse ali, sentado naquela cadeira, eu também não estaria aqui podendo contar um pouco de sua história, que ele passou para mim.
que  para mim ele seja imortal, posto iluminado que é, e que seja eterno em meu coração, porque além de médico ele tem o profundo saber do místico e nos passou este legado, este legado que talvez seja o maior de todos que transmitira.

Ensinou-nos que a  finitude, ela depende de crermos ou não nela. ele como médico precisava mais que tudo possuir esta formação mística, que transcende a vida. os médicos curam vidas, mas para que nos ajudemos a eles, médicos, a nos curarem, é necessário crermos na força de nossa alma. mente sâ corpo são. é preciso cuidarmos da nossa alma, a nossa alma, fortalecida, pode fazer milagres em nosso corpo. 

Posso dizer de cadeira que mais que um médico do corpo, ele é, e sempre será, para mim, um médico da alma, e isto não se ensina na escola de medicina. aprende-se na escola da vida.


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                                                             Plínio e Bernadete



Da passagem do dia 06 de abril de 2017, aniversário de 85 anos do Dr. Plinio.

Em um livro que ganhei de um médico, o Neurologista, Dr. Wilson Sanvito, o título chamava-se: LEMBRANÇAS QUE NÃO SE APAGAM (Ou quase Memórias). Hoje, um dia depois que meu pai fez aniversário, meu irmão, Luiz, publicou em sua linha do tempo, lembranças, memórias que não se apagam, parodiando o título deste grande médico, Dr. Sanvito.

Luiz faz, em suas palavras, suas memórias, memórias suas, lembranças de seu pai. Aprendi a conhece-lo mais agora, por meio desta calorosa iniciativa.

Convido meus amigos de cá a conhecer um pouco mais deste médico-reumatologista, pelas palavras de meu querido irmão.
Obrigado, Luiz.
.
Dr. Plinio Augusto Balthazar

Por Luiz Balthazar

Sei que estamos em tempos de poucas palavras e de muitas imagens ....e gosto de boas imagens...,as vezes, valem as tais mil palavras...
Mas sou adepto da era das palavras, do texto escrito, e do compromisso que elas guardam , quando pronunciadas e registradas. Sei que poucos terão paciência e tempo para lerem...mas aqui vai.
Hoje, é dia do aniversário de meu pai, que esta no céu e em ótima companhia. Sendo este, um espaço meu e dos amigos que me conhecem, ou ,que de alguma forma me acompanham , peço licença para registrar ...as palavras ...que vieram a tona ao acordar, e que versam sobre meu pai. Um ser especial , pois Medico e Espiritualista, nos moldes que ele escolheu a vida dele..., não é pra qualquer um...
Aos queridos que o conhecem e que gostarem desta lembrança , peço que, ao acabarem de ler, façam apenas um pensamento para ele, o melhor presente para ele, pode ser um simples :
IIIIAAAOOO,
um mantra, sem contra indicação, que deve ser entoado iniciando com o peito cheio de ar e terminando apenas quando o ar acaba ...dividindo as 3 letras para que o tempo seja mais ou menos proporcional para cada uma.. isto .produz um retumbante e cósmico "grito de paz."
"Luz pura luz solar" era outro, dentre os vários mantras que meu pai repetia... e está, entre os que eu mais gostava ... tinha origem na Rosa Cruz.. e da mesma série, ele citava : .." que a paz esteja contigo para que participes da Luz"....este, mais ligado ao ritual de comunhão e é parecido ao ritual católico... mais tarde, para o final da passagem dele ...ele passou a emendar, quando os problemas da vida apareciam : "Tudo passa, Deus nos basta" ..
Sem querer intelectualizar , mas fazendo um breve comentário : na fase da Rosa Cruz , papai estava muito dedicado a estabelecer os pilares da conexão etérea , cósmica. .
Ele queria garantir uma conexão de "banda larga"... e afirmava os cânones da escola da Rosa cruz com toda força da meditação e concentração ...e desta fase, o Forte e sagrado mantra IIIIAAAOOO ...para mim, é um inestimável legado, que me ajuda , sempre quando desejo abrir minha mente para recarregar de luz, paz e paciência...comigo, e com os dias mais duros da vida.
Depois da fase Rosa cruz, e na fase ligada ao Trigueirinho ... (foram muitas escolas espiritualistas, humanistas..) papai saiu do período de construção de sua" plataforma de comunicação" com o cosmo e Deus, e passou para uma fase mais prática, com respeito à dedicação caridosa ...( como se a vida dele não fosse só feita disso...) buscando eventos no" fazer" , na ajuda ao próximo , sem a "veste nem a liturgia de um Bispo da RC", fazendo coisas simples , como um ser comum.., para ajudar a melhorar a vida dos necessitados...que precisavam ..
Então ele ia para Minas e fazia 2 , 3 ,4 dias de consultas gratuitas....além de atividades simples como plantar hortaliças...era a escola mais "franciscana" do espiritualista Trigueirinho..., no sentido de fazer o bem , sem registro da "santidade" do doador, .... fazer o bem, como uma atividade qualquer do dia a dia...por hábito , simplicidade e obrigação para com deus e seus filhos na terra.
De qualquer forma, Papai sempre navegou por estes Mares sagrados ...e eu , como meus irmãos e nossa Mae, e a Bernadete, somos os testemunhos de que a vida dele era assim por que era assim.
Não era uma Veste, nem uma prática para buscar absolvição, mas convicção pura, de que andar na trilha e na estrada de deus e da Luz, e da cura das pessoas, para as apaziguar, era o único caminho e missão do HOMEM.
Papai : Feliz aniversário ! Parabéns . te amamos!




















































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Balthazar F.A. Mais histórias.

"Todos somos irmãos, então não podemos aceitar que alguém esteja sendo privado do básico. Sabemos que nada é por acaso, nós sabemos di...